No fim das férias escolares, o resultado pode ser burnout parental | Por Dr. Eduardo Amaro
O final de janeiro é, para muitos pais, um misto de alívio e cansaço extremo. Durante as férias escolares, muitos enfrentam um desafio inesperado: o risco de burnout parental.
Tradicionalmente associada ao ambiente de trabalho, a síndrome de burnout é caracterizada por exaustão emocional, falta de energia e baixa realização pessoal. No contexto familiar, especialmente em períodos como o descanso da escola, essa condição pode se manifestar de maneira intensa, devido ao aumento de responsabilidades e expectativas sociais.
Nesta época, a rotina familiar passa por uma transformação significativa. A ausência de atividades de ensino regulares, combinada com a pressão para as crianças, pode aumentar consideravelmente a carga emocional sobre os pais.
Estudos destacam que a busca por criar memórias supostamente perfeitas nessa fase pode se tornar uma fonte de estresse adicional, intensificando a sensação de esgotamento.
O convívio intenso com os filhos, apesar de ser uma oportunidade para fortalecer laços afetivos, pode também se tornar estressante.
Os pais frequentemente se sentem pressionados a planejar atividades constantes, gerenciar conflitos entre filhos e equilibrar os cuidados familiares com suas rotinas de trabalho. Esse cenário pode levar a uma exaustão física e emocional significativa.
Os sinais de burnout parental são claros: irritabilidade, sensação de estar sobrecarregado, distanciamento emocional e baixa autoestima em relação ao papel de cuidador.
Além de afetar o bem-estar dos pais, esse estado de exaustão pode prejudicar a conexão com os filhos, pois a fadiga parental tem consequências não só para os adultos, mas também para o desenvolvimento emocional e comportamental das crianças.
Os pais, assim como trabalhadores em um ambiente corporativo, muitas vezes não têm a opção de tirar férias de suas responsabilidades. Por isso, é fundamental contar com redes de apoio saudáveis que permitam compartilhar atribuições, principalmente durante a pausa escolar.
A gestão de tarefas domésticas, demandas familiares e obrigações profissionais, além da privação de sono e a busca incessante pela perfeição, pode levar ao esgotamento dos cuidadores.
Autocuidado
Para combater o burnout parental, o suporte social é vital, mas o autocuidado também não pode ser negligenciado. Práticas como uma alimentação balanceada, exercício regular e momentos de relaxamento são essenciais.
Além disso, buscar uma escuta qualificada em saúde mental, como a oferecida por psicólogos, pode fazer diferença no enfrentamento das dificuldades associadas à parentalidade.
O papel do psicólogo é central nesse contexto, pois oferece acolhimento e trabalha demandas específicas de pais em busca de estratégias eficazes para prevenir ou enfrentar o problema. A chave está em reconhecer os limites e buscar recursos antes que a exaustão se torne insustentável.
Procurar ajuda não é apenas um passo em direção ao alívio pessoal, mas também uma maneira de garantir um ambiente familiar mais saudável e equilibrado.
As férias escolares podem, sim, ser um período para fortalecer vínculos e criar memórias positivas, desde que os pais consigam equilibrar suas responsabilidades com cuidado e suporte adequados.
*Eduardo A. Amaro é psicólogo e coordenador do núcleo de Saúde Mental do Grupo Santa Joana.
Artigo publicado pela Veja Saúde.