A importância da saúde mental dos profissionais de saúde | Por Eduardo Amaro
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a saúde mental é um estado de bem-estar vivido pelo indivíduo que possibilita o desenvolvimento de suas habilidades pessoais para responder aos desafios da vida e contribuir com a comunidade. Por muito tempo, fomos estimulados a compreender o corpo de forma separada da mente, no entanto, estudos expressivos têm corroborado para compreender diversos processos de adoecimento a partir de causas emocionais.
No que tange aos profissionais de saúde, em específico, médicos(as), o tema torna-se relevante ao considerarmos as demandas físicas e emocionais às quais esses trabalhadores estão expostos diariamente. Costumam estar na linha de frente do combate a diversas enfermidades, negligenciando, muitas vezes, sua própria saúde mental, o que pode resultar em consequências graves tanto para si mesmos, quanto para seus pacientes.
A equipe médica enfrenta uma série de pressões diariamente e apresenta altas taxas de sofrimento mental. A responsabilidade de fornecer diagnósticos precisos, realizar procedimentos complexos e oferecer suporte emocional aos pacientes e suas famílias, pode ser devastadora se não for feito o autocuidado necessário.
Segundo dados do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM-MA), a cada 10 médicos, seis apresentam sintomas indicativos de burnout e quase um quarto reconhece estar deprimido. O burnout pode se manifestar de diversas maneiras, incluindo fadiga crônica, insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração e até distanciamento emocional de colegas e pacientes. Segundo o CRM-MA, no Brasil 69,4% dos médicos já apresentaram sinais de depressão durante a vida, 26,8% têm o diagnóstico atualmente e 23,4% manifestam sintomas, mas não fazem acompanhamento. Os médicos com transtornos de saúde mental não tratados, como depressão e ansiedade, têm maior probabilidade de cometer erros, o que pode trazer repercussões graves para os pacientes. Além disso, a falta de bem-estar emocional pode prejudicar a capacidade de se conectar empaticamente com seus pacientes.
Características bastante presentes nesses profissionais, tais como autoexigência elevada e grande capacidade de lidar com estresse, podem forjar uma falsa percepção dos limites e dos riscos à saúde mental. As batalhas diárias são constantemente enfrentadas com resiliência, mas é essencial saber reconhecer os sinais e ameaças para reformular sua conduta.
Afinal, os médicos dedicam suas vidas a cuidar dos outros e é fundamental que recebam o mesmo nível de cuidado e atenção para sua saúde mental. Por isso, é importante que algumas medidas sejam implementadas para que esses profissionais pratiquem cuidados para o seu bem-estar psicológico que reflitam na melhora da sua qualidade de vida, mas também garantam um atendimento cada vez melhor e mais seguro para os pacientes. Priorizar a saúde mental dos profissionais de saúde é, portanto, uma necessidade imperativa para um sistema de saúde eficaz e humanizado.
Eduardo A. Amaro é psicólogo e coordenador do núcleo de Saúde Mental do Grupo Santa Joana.
O artigo acima foi publicado na Medicina S/A.